domingo, 10 de agosto de 2014

O Palco Que Não Tenho Mais

A incerteza e ansiedade eram certas.Até mesmo em sonhos lá estavam, no esperar dessa noite, abusivas da minha falta de aceitação e excesso de teimosia.
Cheguei : arrumada e livre de malas, comprei o ingresso e mesmo com ele nas mãos ainda não tinha percebido o que estava a fazer.Entrei : as vi ali, sentada orando me fez crer divinamente em seu papel; dançando e recebendo as almas me fez  lembrar das histórias que gosto de lembrar; de olhos fechados meditando me fez duvidar da serenidade que não conhecia nela; curavada ao leste falando baixo me fez temer o que havia por vir.A narração por voz tão conhecida logo teve seu efeito, não apenas escutei como ouvi.O ciclo por ela narrado tornou a melancolia mais uma personagem daquele salão.
Tomei meu lugar na tão triste platéia.Lá, nas cadeiras vermelhas, sentia o aroma do gelo seco e via as luzes por trás das cortinas, sabendo o que faziam lá.Começou: o vídeo se iniciou, e, quando descobri que mesmo não fazendo mais parte daquela família eu poderia estar com eles, automaticamente, meus olhos se encheram de lágrimas.Mas nenhuma havia caído até então.
Pude então estar no palco e na platéia revivendo alguns instantes do ano anterior, me cobri de sorrisos e reminiscencia e aplaudi a entrada de um novo show sem mim.
As danças foram belas como sempre mas quando aquela música começou... Não havia afeto que me impedisse de desabar em choro.Elas estavam lá,todas, lá, no palco, lá, todas, lá, sem mim.A expressão foi transferida daquele rosto para o meu e, de uma em uma, cada gota salgada que saía de meus olhos era ganho merecido daquelas atuações.Pasmei.Sofri eu a seringa em minha veia, puxei eu o gatilho contra minha cabeça e bati eu naquelas garotas.
Quando abandonaram os focos de luz, demorei a me recuperar, e quando finalmente o fiz elas retornaram - juntas das lágrimas.
Findou para que pudesse subir aquela escadaria de quatro degraus que me separaram de meu devido lugar.Lá, finalmente, as abracei e contei tudo que senti.Antes que houvesse mais delongas voltei ao choro descontrolado e admiti a falta soberba, não só daquele palco, mas de todas aquelas pessoas que o tornavam meu lar.
Eu me emocionei, e minha emoção as emocionou.Queria poder dizer que aqueles abraços foram suficientes, mas de nada vale a mentira diante de tanto encanto.
Só me resta esperar um retorno, algum dia, para o camarim, e poder subir as escadas, temer a platéia, olhar de relance pelas coxias e, no palco enfim, ouvir o eco de meus pés na madeira, queimar os olhos com a iluminação e receber pelo personagem aquilo que me falta sendo apenas eu.
A única consolação que ouso acreditar é que se me foi tirado é devido que receberei futuramente presente ainda melhor - isso se há.
Palco,palco,palco...
Tudo que queria era poder cantar:
"No alto da montanha tinha uma coruja,
noite de Lua saía pra cantar
tchu tchu,tchu tchu
tchu tchu tchu tchu tchu tchu
tchu tchu, tchu tchu
tchu tchu tchu tchu tchu tchu "

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